quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Editorial - Paulo Ribeiro

Resolvi desenvolver este site, a fim de deixar muito clara a intenção de não me poupar, como fiz durante muitos anos, de mostrar tudo aquilo em que acreditei durante meus trabalhos ao longo do tempo. Sem querer de forma alguma ser prepotente, não conheço no Brasil, outras 2 pessoas sem ser uma delas eu e a outra, a minha amiga de luta Maria Helena Rodriguez, Psicóloga do Vasco da Gama, que tenham 22 anos de trabalhos ininterruptos na Psicologia do Esporte e dentro de uma agremiação esportiva; a saber : Clube de Regatas do Flamengo e Vasco da Gama respectivamente. Durante esses anos de experiência pude constatar algumas coisas que pela falta da prática, algumas pessoas não puderam observar. Está longe minha intenção de afirmar que só se precisa de prática para tornar um trabalho reconhecido.Com toda certeza precisamos de uma fundamentação teórico-científica para sim estarmos desenvolvendo ciência, ao invés de pura e simples observação sem compromisso.

Nesses anos de trabalho, tive algumas dificuldades para me identificar com alguma abordagem teórica dentro da Psicologia. Testei muitas delas e acabei ,depois de 4 anos de formação Lacaniana, me rendendo a abordagem Cognitivo-Comportamental como a principal aliada do meu trabalho de da minha equipe de Psicólogos no Flamengo que atuam nas divisões de base.

Estive muito preocupado durante muitos anos com alguns Psicólogos que estavam tentando entrar na área esportiva e que não tinham uma visão mais ampla do atleta e da otimização de sua performance, já que trabalhamos com esporte de alto rendimento. Vi muitos colegas perdidos num emaranhado de informações distorcidas pela própria falta de especificidade da Psicologia do Esporte e, pela carência de metodologia de trabalho. Foi pensando também nisso que reconheci a necessidade de passar através de cursos, seminários, congressos e jornadas, os pontos que eu achava mais importantes a serem avaliados pelos Psicólogos do esporte. Um exemplo claro disso, foi minha intenção de mostrar a esses profissionais que não se deve achar que o Psicólogo é tão ou mais importante que os outros membros de uma comissão técnica, que Psicólogo não ganha jogo, que Psicólogo não detém todo saber, que o treinador é sempre o centro das atenções porque sempre é o mais cobrado, que a autoridade do treinador em certos momentos é inquestionável, que o trabalho deve ser sempre integrado numa equipe interdisciplinar, que o Psicólogo precisa adotar uma postura profissional coerente e muito mais entendimentos que somente a prática me deu ao longo desses 22 anos de experiência.

Outro ponto importante e que me faz discordar de alguns livros e de determinados profissionais de psicologia, reside no fato de muito se falar em perfil psicológico, avaliação psicológica, treinamento psicológico pré e pós competição e outros tantos nomes que se dá à dinâmica de trabalho do psicólogo, que muito se esquece das possibilidades de intervenção deste profissional, ou seja, é necessário ter em mente que nem sempre podemos levar à frente uma programação de trabalho fixa, que em muitos momentos precisamos mesmo estar ao lado da comissão técnica que busca somente como ouvintes e participantes de algumas decisões. Tem certas horas que não cabe nenhuma intervenção por parte do psicólogo e que isso não deve servir de desestimulo para alguns, muito pelo contrario, é importante saber a hora precisa da intervenção. Não podemos ser confundidos com aquelas pessoas que realizam os trabalhos motivacionais ocasionais, somos diferentes até pela nossa própria formação. Se conselho serve para alguma coisa escute esse com certeza. Você Psicólogo, não é o todo poderoso que pode dar todas as explicações para todas as situações, é preciso implicar também o atleta no contexto das situações. Ele deve também responder por falta de compromisso, de responsabilidade e de participação nos maus resultados, nem sempre é do treinador a culpa por um fracasso. As vezes temos grupos que não são habituados ao trabalho coletivo e isso acaba que por deixar lacunas em toda a estrutura.

Quero nesse pequeno editorial caro colega, chamar sua atenção para a importância da pratica em sua conduta profissional e cientifica. Quero lhe dizer que mais que seu título de suposto saber em Psicologia, mais vale sua humildade em reconhecer que a Psicologia do Esporte ainda carece de especificidade e pesquisa e de menos oba oba em torno de um tema que deve ser tratado como mais uma das ciências do esporte que vem somar esforços em prol da otimização da atividade esportiva.

Paulo Ribeiro
Psicólogo Futebol Profissional do Flamengo
Supervisor do Serviço de Psicologia do Depto. de Futebol